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Nossa História
Dr. Álvaro Armando
Carvalho Moraes
Nasci em 1947, em Piranga (MG), uma cidade muito pequena, numa rua de nome inspirador: Rua do Estudo. Era uma rua de apenas um quarteirão, onde moravam os dois médicos da cidade – meu pai e um tio. Foi nesse ambiente, desde cedo marcado pela medicina, que nasceu o sonho de seguir a mesma profissão.
Graduei-me em Medicina pela UFMG, em Belo Horizonte, em 1970. No Hospital Borges da Costa, da UFMG, fiz a Residência em Cirurgia Geral. Em 1986, quando já morava em Vitória, concluí o Mestrado em Cirurgia Abdominal, também na UFMG.
Em março de 1976, aceitei o convite para atuar na Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). Comecei na disciplina Clínica Cirúrgica I e, dois anos depois, também no Internato de Cirurgia. Ao lado dos colegas Danilo Nagib Salomão Paulo e Cláudio Medina da Fonseca, implantamos a pós-graduação que, em pouco tempo, tornou-se a Residência Médica em Cirurgia Geral da Santa Casa. Desde o início, interessei-me especialmente pelos cuidados perioperatórios, com foco na terapia nutricional.
Durante quatro décadas, atuei na Santa Casa, conciliando ensino, atividade cirúrgica e acompanhamento de enfermarias com alunos e residentes. Sempre busquei transmitir, além do conhecimento técnico, valores como atualização constante, trabalho em equipe, pontualidade e, sobretudo, respeito aos pacientes, familiares e colegas.
A partir de 1978, atuei como plantonista da UTI do Hospital Santa Rita de Cássia, por quase dez anos. Essa vivência foi crucial para minha formação no manejo de pacientes graves. Lá, introduzi, preparei e administrei a primeira Nutrição Parenteral no Espírito Santo, baseado em um livro do Prof. Joel Faintuch, intitulado Nutrição Parenteral Prolongada. A adesão à NPP foi surpreendente. Mais tarde, ao introduzir a nutrição enteral, enfrentei maior resistência por parte da classe médica — um paradoxo curioso.
Sem abandonar a cirurgia, mergulhei no universo da terapia nutricional. Ao lado dos colegas Hadnan Tose e Áquila Rebelo Tose, criamos a primeira equipe médica de suporte nutricional do Estado, no Hospital Santa Rita de Cássia. Pouco depois, criei a Equipe Multiprofissional de Terapia Nutricional (EMTN) na Santa Casa de Misericórdia. No final dos anos 1990, juntamente com a nutricionista Érica Janaína Vidigal e a Enfermeira Kátia Maria Piccoli, iniciamos o Curso de Especialização em Terapia Nutricional da EMESCAM, que supriu uma demanda reprimida, especialmente entre médicos e nutricionistas.
Atuei em diversos hospitais capixabas, vivências que enriqueceram minha formação e me tornaram um profissional mais humano. Trabalhei como cirurgião no Hospital Dr. Pedro Fontes, voltado ao atendimento de pessoas com hanseníase; médico da EMTN no Vitória Apart Hospital e Hospital Metropolitano. Destaco a atuação no Centro Integrado de Atenção à Saúde (CIAS), da Unimed Vitória: no Hospital, implantei a EMTN e atuei como médico da equipe por várias décadas; apresentei, estimulei, cooperei na implantação e atuei como cirurgião na Assistência Domiciliar da Unimed Vitória; junto ao professor João Luiz de Aquino Carneiro, contribuí com o Centro de Ensino e Pesquisa, orientando estudantes de medicina em estágio no hospital.
Devido à progressão de uma distrofia muscular, afastei-me das atividades cirúrgicas aos 65 anos e da medicina e docência aos 75. Fui privilegiado por conviver com colegas generosos e alunos entusiasmados. Recebi inúmeras homenagens em formaturas de graduação e residência, que culminaram com o título de Professor Emérito da EMESCAM — reconhecimento que guardo com carinho especial.
Durante minha trajetória, fui acompanhado por dezenas de estudantes e profissionais, em atividades extracurriculares, nos hospitais onde atuei como médico da EMTN. Entre eles, um grupo se destacou ao fundar a TENEP – Terapia Nutricional Enteral e Parenteral Ltda, empresa que presta esse serviço em diversos hospitais da Grande Vitória. Tenho grande estima por dois de seus componentes, com quem mantive laços profissionais e afetivos intensos: Gilmária Millere Tavares, com quem estive lado a lado desde a graduação, passando pela residência em cirurgia geral, até o mestrado; Rafael Carvalho de Morais, meu filho, que me acompanhou diariamente desde o quarto ano da graduação até a pós-graduação em terapia nutricional. Gilmária e Rafael têm modernizado a TENEP com competência, ampliando o cuidado técnico, humano e individualizado. Com imenso orgulho, fui homenageado por eles ao ser convidado a integrar o grupo como consultor científico.
Se a vida me deu a chance de ensinar, ela também me deu, em troca, o privilégio de aprender com quem veio depois. Ver antigos alunos, hoje líderes e empreendedores na área que ajudei a plantar, é mais do que recompensa: é a certeza de que valeu a pena cada aula, cada visita, cada cirurgia. Meu legado é deles — e neles, continuo vivo.